Na rua, reinou um trovão que desenhou no céu uma espada de lua cintilante, após o seu ecoar pesado, como o de um gigante deambulando sobre as nuvens escuras. Era noite e o frio penetrava até ao mais íntimo dos sentimentos. Algo de especial parecia querer acontecer, timidamente e de forma subtil. Era quase impossível adivinhar as sombras misteriosas de um pensamento quase cego que tentava caminhar no escuro do beco, tropeçando em baldes de lixo e fazendo vir às janelas os vizinhos irritadiços. Até os gatos, dormitando nos jornais e nos restos de comida deixados ao acaso em sacos de hipermercado, enfartados, bem ceados, afastavam-se do cheiro a desconhecido e diferença que ele libertava das roupas escurecidas, da cor da sua alma, perdida ali, naquele submundo. Caminhava deixando atrás de si uma sombra, cada vez mais negra, mas avançava em direcção à luz, como na caverna de Platão, na esperança de um mundo superior. Acreditava nele e por isso nunca se deixava cair, nem mesmo quando tropeçava e escorregava nos resíduos apodrecidos. Parecia estar atravessando um bairro onde apenas residiam pessoas de um nível social elevado, com mesas bem postas e iguarias diversas, podendo usufruir do luxo de deitar sobras de comida fora, ainda dentro do prazo. Tudo isto, quem sabe, talvez, no intuito de fazer variar as ementas e evitar as refeições congeladas e aquecidas. No país onde nascera, era tudo bem diferente. Havia casas, janelas, neve, frio, luzes, gatos e lixo "verdadeiro", crianças, alegria, sons, música e movimento, risadas e brincadeiras, mas, infelizmente, havia fome também. Não sabia bem onde estava e de onde surgira aquele mundo meio sujo e escuro, onde até o lixo se exibia farto, diante da opulência das casas majestosas, debruçadas sobre becos e labirintos estranhos, intrigando-o. Tal como os gatos, ali, as pessoas pareciam nervosas, pesadas e resignadas a uma poltrona, diante da televisão. Não se ouviam risos nas ruas. As janelas reflectiam as imagens sucessivas exibidas na televisão, como que, na mudança insatisfeita e sistemática de canais, processada por um comando televisivo depositado, quase desfalecido, numas mãos tristes. Reinava o silêncio. Era ele o senhor da noite, perdido, mudo e sem cor. E o trovão voltou a soar angustiado no céu, parecendo rebentar o azul-escuro, quase negro, e desenhar um rosto desesperado nas nuvens. Foi então que viu chegar o seu trenó e as suas renas com sininhos e sorrisos. Suspirou aliviado. Pode finalmente abandonar aquele lugar frio e egoísta e voar até ao seu mundo, onde a sua roupa teria brilho e a cor vermelha do amor, onde seria chamado de Pai e esperado pelas crianças que, mais do que ninguém, respiravam esperançadas, o ar límpido do Natal.
2 comentários:
Professora, devia pensar em escrever um livro, quem lê-se os textos da professora, diria o mesmo! Pense no assunto, a professora escreve de uma maneira , que consegue transmitir bem o que sente!
Bravooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo!
Bom Ano Novo! bisous
euhhh so uma pergunta alguem tem o numero do pai natal porque tenho algumas reclamaçoes esqueceu-se do meu aviao privado para ir para a madeira mais rapido; porke começo a ficar mesmo com muita ansiedade para partir e voces ????XD
ONT EST LES MEILLEURES VIVE C BLOG D'EXCEPTION!!!
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